Acesso ao Blog - 25/10/2009

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sexta-feira, abril 17, 2009

A lei custodia o amor




Entre lei e amor se estabelece uma espécie de circularidade e de pericorese. Ainda que seja certo que o amor custodia a lei, também é verdade que a lei custodia o amor. De diversos modos a lei está ao serviço do amor e o defende. Sabe-se que «a lei foi instituída para os pecadores» (cf. 1 Tm 1, 9) e nós somos ainda pecadores; sim: recebemos o Espírito, mas só como primícias; em nós, o homem velho convive ainda com o homem novo, e enquanto existam em nós as concupiscências, é providencial que existam os mandamentos que nos ajudam a reconhecê-las e a combatê-las, talvez inclusive com a ameaça do castigo. A lei é um apoio que se dá à nossa liberdade, ainda incerta e vacilante no bem. É para, não contra, a liberdade, e vale dizer que quem acreditou que tinha que rejeitar toda lei em nome da liberdade humana, errou, desconhecendo a situação real e histórica na qual tal liberdade atua. Junto a esta função, por assim dizer, negativa, a lei leva a cabo outra positiva, de discernimento. Com a graça do Espírito Santo, nós aderimos globalmente à vontade de Deus, fazemo-la nossa e desejamos cumpri-la, mas não a conhecemos ainda em todas as suas implicações. Estas nos são reveladas pelos acontecimentos da vida, mas também pelas leis. Existe um sentido ainda mais profundo no qual se pode dizer que a lei custodia o amor. «Só quando existe o dever de amar – escreveu Kierkegaard –, então só o amor é garantia para sempre contra toda alteração; eternamente libertado em feliz independência; assegurado em eterna beatitude contra todo desespero» [10]. O sentido destas palavras é o seguinte. O homem que ama, quanto mais intensamente ama, com maior angústia percebe o perigo que corre este amor seu, perigo que não vem de ninguém, mas dele mesmo; bem sabe, com efeito, que é volúvel e que amanhã, ai!, poderá cansar-se e deixar de amar. E como, agora que está no amor, vê com clareza a perda irreparável que isso comportaria, eis aqui que se previne «atando-se» o amor com a lei e ancorando assim seu ato de amor – que acontece no tempo – na eternidade. Isso supõe que se trate de verdadeiro amor e não, como diz o filósofo, de um jogo e de uma brincadeira recíproca. O verdadeiro amor – explica o Papa na encíclica Deus caritas est – «leva o que agora aspira ao definitivo, e isto em um duplo sentido: enquanto implica exclusividade – só esta pessoa –, e no sentido do ‘para sempre’. O amor engloba a existência inteira e em todas as suas dimensões, inclusive também o tempo. Não poderia ser de outra maneira, já que sua promessa aponta ao definitivo: o amor tende à eternidade» [11]. O homem de hoje questiona cada vez com maior frequência qual relação pode haver entre o amor de dois jovens e a lei do matrimônio e que necessidade há de «vincular-se» ao amor, que é por natureza liberdade e espontaneidade. Assim, são cada vez mais numerosos os que tendem a rejeitar, na teoria e na prática, a instituição do matrimônio, e a escolher o chamado amor livre ou a simples convivência. Só quando se descobre a relação profunda e vital que existe entre lei e amor, entre decisão e instituição, pode-se responder corretamente a essas perguntas e dar aos jovens um motivo convincente para «atar-se» a amar para sempre e para não ter medo de fazer do amor um «dever». O dever de amar protege o amor do «desespero» e o faz «feliz e independente», no sentido de que o protege do desespero de não poder amar para sempre. Dá-me a um verdadeiro enamorado – aponta Kierkegaard – e verás se o pensamento de ter que amar para sempre é para ele um peso ou a suma felicidade. Esta consideração não vale só para o amor humano, mas também, e com maior razão, para o amor divino. Por que – pode-se perguntar – vincular-se a amar a Deus, submetendo-se a uma regra religiosa, por que emitir os «votos» que nos «obrigam» a ser pobres, castos e obedientes, visto que temos uma lei interior e espiritual que pode obter tudo isso por «atração»? É que, em um momento de graça, você se sentiu atraído por Deus, você o amou e desejou possuir-lo para sempre, totalmente, e temendo perdê-lo por sua instabilidade, você se «atou» para proteger seu amor de toda «alteração». Nós nos atamos pelo mesmo motivo que Ulisses se atou ao mastro da nave. Ulisses queria a toda custa voltar a ver sua pátria e sua esposa, a quem amava. Sabia que tinha que passar pelo lugar das sereias, e temendo naufragar como tantos outros antes dele, pediu para ser amarrado ao mastro depois de ter tapado os ouvidos de seus companheiros. Chegado ao luar das sereias, foi seduzido, queria alcançá-las e gritava para que o soltassem, mas os marinheiros não ouviam, e assim superou o perigo e pôde chegar à meta.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - por Frei Raniero Cantalamessa - ofmcap, Pregador do Vaticano Site Frei Raniero

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