Acesso ao Blog - 25/10/2009

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domingo, julho 12, 2009

DESAPÊGO


É preciso ter cuidado para que nosso amor-próprio, por vezes, não nos engane sob máscaras de amor de Deus, e se infiltre em nossa vida como se ao invés de avareza fosse virtude: dá-se desculpa de cuidado para tentar esconder o que na verdade é um desejo desordenado. “Os bens da terra, repartidos entre poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos. E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas - que são santas, porque vêm de Deus - tratadas como simples coisas, como números de uma estatística. Compreendo e partilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua a convidar-nos a pôr em prática o mandamento novo do amor” (ESCRIVÁ, São Josemaria: É Cristo que Passa. Ponto 111). Por isso os santos, bem como a Santa Madre Igreja, nos exortam a, muitas vezes, praticar concretamente atos de pobreza, reservando parte dos bens para usá-los em benefício dos mais necessitados.

Muito embora, nos dias de hoje, a aversão ao termo seja grande, a Igreja não deixa de nos exortar à esmola dada aos pobres, que é
“uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos” (Sua Santidade, o Papa Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2008). Esmola vem do grego eleemosyne, que significa compaixão e misericórdia, indicando inicialmente a atitude do misericordioso e, mais tarde, toda obra de caridade feita aos necessitados. “Podemos não estar de acordo com quem dá a esmola, pelo modo como a dá. Podemos também não concordar com quem estende a mão pedindo esmola, se não se esforça por ganhar a vida por si mesmo. Podemos não aprovar a sociedade, o sistema social, em que haja necessidade de esmola. Todavia, o fato mesmo de prestar auxílio a quem precisa, o fato de repartir com os outros os próprios bens deve merecer respeito” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II, Audiência Geral do dia 29 de março de 1979). Dar esmola não significa apenas descarregar do bolso algumas moedas que não nos fariam falta, ou simplesmente doar grandes quantidades de dinheiro para depois vangloriar-se de sua boa ação, pois, como diz São Paulo, “Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas..., se não tiver caridade, de nada me aproveita” (1 Cor. 13, 3); pelo contrário, é dispor-se em partilhar o que tem em benefício daquele que necessita, assim como fez a viúva pobre, no tempo de Cristo, que doou uma pequena quantia, sendo, porém, tudo o que tinha. Sendo assim, a esmola é, antes de tudo, dom interior.

O estado de pobreza é imposto a alguns, pelas condições de vida que têm, mas pedido de Cristo a outros, como fez ao jovem rico
“Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19,21). “Nosso Senhor Jesus Cristo, a SS. Virgem, Sua Mãe, os apóstolos e tantos santos e santas foram pobres e, podendo ter riquezas, as desprezaram. Quantas pessoas que podiam ocupar no mundo um lugar saliente, apesar de todas as contradições dos homens, foram procurar com avidez nos conventos ou nos hospitais a santa pobreza!”(SALES, São Francisco: Filotéia. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 247). Aos pobres, o mesmo santo exorta: “Querer ser pobre e não querer suportar os incômodos da pobreza é uma grande ambição; sim, é querer as honras da pobreza e a comodidade da riqueza”(SALES, São Francisco: Filotéia. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 249). Entretanto, há muitos pobres quanto ao dinheiro que são, no entanto, avarentos em seu coração. Por isso o pedido de pobreza feito por Cristo ao jovem rapaz não é apenas para alguns. O convite à pobreza espiritual é feito a todos, e dever de todo cristão é aceitá-lo, despojando-se de si mesmo e seguindo a Cristo.

A pobreza de espírito, tendo como conseqüência o desapego dos bens materiais, se faz necessária em muitas virtudes, várias das quais já citadas anteriormente. O liberal cuida e dispõe de seus bens moderadamente, não tendo por eles qualquer paixão desordenada; o justo não se utiliza de meios fraudulentos para adquirir riquezas; o caridoso, por sua vez, dá o necessário por amor ao próximo e a Deus, seja de si mesmo, através de seus esforços e sacrifícios, ou de suas riquezas; o que possui a virtude da religião não deixa seus deveres para com Deus em segundo plano para mais se empregar em seus negócios; o humilde jamais deixa de colocar sua confiança em Cristo e sabe que tudo que possa ter d’Ele obteve; o diligente não mede esforços em seu trabalho honesto e por amor de Deus, vendo nisto um meio para melhor servi-Lo; o prudente confia na Providência Divina, buscando sempre o Reino de Deus em primeiro lugar; já aquele que vive a castidade não busca os prazeres deste mundo e nem quer bens materiais para comprá-los, se aplica apenas em adquirir bens eternos.

O desprendimento dos bens passageiros leva o homem a não ser duro de coração, e deixar suas portas abertas a Cristo; misericordioso, socorrendo seu irmão no que necessitar; a viver uma grande quietude, por não se impor preocupações e cuidados excessivos com o passageiro; pacífico, jamais se utiliza de violência para obter o que precisa; verdadeiro, pois vê nos enganos e ludibriações caminhos inválidos na aquisição de riquezas. Estes são apenas alguns exemplos do desprendimento relativo às riquezas, mas a verdade é que aquele que deseja ter uma vida virtuosa necessariamente viverá o desapego, pois, em termos gerais, todo pecado é um voltar-se desordenadamente a algum bem, enquanto que o virtuoso busca utilizar todos os bens retamente.

Para os que estão em busca da perfeição, o amor desordenado das riquezas é um grave obstáculo, pois o lugar de Deus em nós é ocupado por paixões mundanas e inquietações. Um coração desprendido é essencial para nos unirmos a Deus, pois onde está nosso tesouro, aí também estará nosso coração. Sendo nosso tesouro o Cristo, desprendida de todo bem e apegado apenas ao único Bem Supremo, nossa alma com Ele permanece, e nela o Senhor faz morada, aí deleitando-se.
“Enquanto o homem não for elevado em espírito e livre de todas as criaturas e todo unido a Deus, pouco vale quanto sabe e quanto possui. Imperfeito permanecerá por muito tempo e preso à terra quem algo estimar que não seja o único, imenso e eterno Bem” (KEMPIS, Tomás: Imitação de Cristo. São Paulo: Círculo do Livro. p. 135).

“É claro que Deus criou estas coisas e as deu aos homens para seu uso. E todas as coisas criadas por Deus são boas, e são para que, usando retamente delas, agrademos a Deus. Mas nós, que somos fracos e terrenos na mente, preferimos as coisas materiais ao mandamento do amor; e, aderidos àquelas, combatemos os homens; ao passo que deveríamos preferir o amor por todos os homens a todas as coisas visíveis, incluindo nosso próprio corpo” (MÁXIMO, São: Centúrias sobre a Caridade. São Paulo: Landy, 2003. p. 26). Livres de todos estes embaraços seria simples perdoar os que nos causam algum mal, sofrimentos e humilhações, seguindo os passos de Cristo, que não foi apegado a qualquer bem passageiro, prazer ou honras e, podendo ter tudo, não quis nada: foi de encontro à Cruz e aos que nela O pregaram, rogando a Deus que os perdoassem por não saber o que faziam.

Como segundo São Gregório a avareza tem por objeto
“não só o dinheiro, mas também a ciência e as grandezas, quando aspiramos a nos elevar sem medida” (GREGÓRIO, São em AQUINO, Santo Tomás de: Suma Teológica, II-IIae. Porto Alegre: Sulina, 1980. Q. CXVIII), o virtuoso é aquele que não tem apego desordenado a qualquer destas coisas passageiras: riqueza, conhecimento, honra, poder. Vê em tudo isso meios pelos quais pode alcançar fins maiores, entre os quais o principal é ganhar os Céus. Desapegar-se de tudo isto é essencial para progredir nas virtudes: “Em muito se há de ter uma virtude quando o Senhor a começa a dar e de nenhuma maneira nos devemos pôr em perigo de a perder. Assim é em coisas de honra e em outras muitas; pois creia V. Mercê que nem todos os que julgam estar desapegados de todo, o estão, e é preciso nunca descuidar nisto. Qualquer pessoa que sinta em si algum ponto de honra, se quer progredir, creia-me e esforce-se contra este atilho. É uma cadeia que não há lima que a quebre a não ser Deus com a nossa oração e fazermos muito da nossa parte. Parece-me que é um liame para este caminho, que eu me espanto com o dano que causa” (D’ ÁVILA, Santa Teresa: Livro da Vida).

“Se as riquezas abundarem, não apegueis a ela o vosso coração” (Sl 61,11). “Essas riquezas significam, ao nosso propósito, os gostos sensíveis, e outros bens temporais, e as consolações do espírito. Convém notar que não são apenas os deleites do corpo que impedem e contradizem o caminho de Deus; também as consolações e gostos espirituais, se a alma os conserva como proprietária ou os procura, são empecilhos à via da cruz de Cristo, seu Esposo” (CRUZ, São João: Cânticos Espirituais. Fortaleza: Edições Shalom, 2003. p. 45). Portanto, como disse o Doutor Místico, até mesmo dos deleites nas coisas espirituais devemos desapegar-nos, pois nossa busca deve ser somente por Deus, não pelas mercês que porventura Ele nos conceda, uma vez que sozinhos não somos merecedores de nada, e se Ele as dá é unicamente por Sua imensa bondade e misericórdia. Santa Teresa D´Ávila lembra “o muito que importa começarem as almas a terem oração indo-se desapegando de todo o gênero de contentamentos e entrarem nela determinadas única e somente a ajudarem Cristo a levar a cruz, como bons cavaleiros que, sem soldo algum, querem servir a seu Rei, pois sabem que têm a paga bem segura. E olhos postos no verdadeiro e perpétuo reino que pretendemos ganhar!”(D’ ÁVILA, Santa Teresa: Livro da Vida).

E, por mais difícil que nos pareça esta tarefa, devemos confiar não se tratar de nada que não esteja a nosso alcance se nos colocamos junto de Deus, dados tantos exemplos de almas santas que viveram a verdadeira pobreza de espírito. O próprio Cristo fez-se pobre, para assim nos enriquecer por sua pobreza (Cf. 2 Cor 8, 9).
“Na sua escola, podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando-O, conseguimos tornar-nos disponíveis para dar não tanto algo do que possuímos, mas darmo-nos a nós próprios. Não se resume porventura todo o Evangelho no único mandamento da caridade?” (Sua Santidade, o Papa Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2008).

O menino Jesus, que, sendo Rei, nasceu pobre e sem quaisquer honrarias, numa manjedoura, rodeado de pastores, encontrou alento numa igualmente pobre mulher. Sua mãe, que pouco possuía de bens deste mundo, tinha a alma como que revestida de ouro e ornada pelos mais preciosos diamantes, estes sim apreciados por seu Senhor. Era toda bela e formosa, e nEla não havia mancha alguma. Que a Virgem Maria seja nosso espelho de verdadeira pobreza, para que não coloquemos nosso empenho em ornar nossas casas com luxuosos artigos, mas sim os jardins de nossa alma com belas flores, onde Nosso Senhor possa ser acolhido com o mesmo amor que o pequeno Cristo foi acolhido por Sua Santa Mãe.

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