Com sua encíclica sobre a esperança, o Santo Padre Bento XVI nos indica a consequência prática que se desprende de nossa meditação: esperar, esperar sempre, e se já esperamos mil vezes em vão, voltar a esperar! A encíclica (cujo título «Spe salvi» – «Na esperança fomos salvos» – procede precisamente da passagem paulina que comentamos) começa com estas palavras:
«Segundo a fé cristã, a ‘redenção’, a salvação, não é simplesmente um dado de fato. É-nos oferecida a salvação no sentido de que se nos deu a esperança, uma esperança fiável, graças à qual podemos enfrentar nosso presente: o presente, ainda que seja um presente fatigoso, pode ser vivido e aceito quando se leva para uma meta, se podemos estar seguros desta meta e se esta meta é tão grande que justifica o esforço do caminho.»
Estabelece-se uma espécie de equivalência e de qualidade de intercâmbio entre esperar e ser salvos, como também entre esperar e crer. «A fé – escreve o Papa – é esperança», confirmando assim, de um ponto de vista teológico, a intuição poética de Charles Péguy, quem inicia seu poema sobre a segunda virtude com as palavras: «A fé que prefiro – diz Deus – é a esperança».
Da mesma forma que distinguimos dois tipos de fé: a fé crida e a fé crente (ou seja, as coisas cridas, e o próprio ato de crer), assim ocorre com a esperança. Existe uma esperança objetiva que indica a coisa esperada – a herança eterna – e existe uma esperança subjetiva que é o próprio ato de esperar essa coisa. Esta última é uma força de propulsão para diante, um impulso interior, uma extensão da alma, uma dilatação para o futuro. «Uma migração amorosa do espírito para o que se espera», dizia um antigo Padre.
Paulo nos ajuda a descobrir a relação vital que existe entre a virtude teologal da esperança e o Espírito Santo. Faz que cada uma das três virtudes teologais se remontem à ação do Espírito Santo. Escreve: «Pois nós, em virtude do Espírito, aguardamos pela fé a justiça que é objeto da esperança. Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão têm valor, mas somente a fé que atua pela caridade».
O Espírito Santo nos é apresentado assim como a fonte e a força de nossa vida teologal. É por mérito seu, em especial, que podemos «abundar na esperança». «O Deus da esperança – escreve o Apóstolo um pouco mais adiante, na mesma Carta aos Romanos – vos cumula de todo gozo e paz em vossa fé, até transbordar de esperança pela força do Espírito Santo» (Rm 15, 13). «O Deus da esperança»: que insólita definição de Deus!
Às vezes se chamou a esperança de «a parente pobre» das virtudes teologais. Houve, é certo, um momento de intensa reflexão sobre o tema da esperança, até dar lugar a uma «teologia da esperança». Mas faltou uma reflexão sobre a relação entre esperança e Espírito Santo. Contudo, não se compreende a peculiaridade da esperança cristã e sua alteridade com relação a qualquer outra ideia de esperança se não for contemplada em sua íntima relação com o Espírito Santo. É Ele quem marca a diferença entre o «princípio esperança» e a virtude teologal da esperança. As virtudes teologais são tais não só porque têm Deus como seu fim, mas também porque têm Deus como seu princípio; Deus não é só seu objeto, mas também sua causa. São causadas, infusas, por Deus.
Precisamos de esperança para viver e necessitamos do Espírito Santo para esperar! Um dos principais perigos no caminho espiritual é o de desalentar-se diante da repetição dos próprios pecados e a aparentemente inútil sucessão de propósitos e recaídas. A esperança nos salva. Dá-nos a força para recomeçar, para crer cada vez que essa será a ocasião boa, a da verdadeira conversão. Atuando assim, comove-se o coração de Deus, que virá em nossa ajuda com sua graça.
«A fé não me surpreende, diz Deus. (Continua sendo o poeta da esperança quem fala; melhor dito, quem faz Deus falar). Resplandeço assim em minha criação. A caridade não me surpreende, diz Deus. Essas pobres criaturas são tão infelizes que, a menos que tenham um coração de pedra, como não deveriam ter caridade umas pelas outras... Mas a esperança, diz Deus, é o que me surpreende. Que os pobres filhos vejam como vão as coisas e que creiam que melhorarão amanhã. Isso é alucinante. E se precisa que minha graça seja de verdade de uma força incrível.».
Não podemos contentar-nos em ter esperança só para nós. O Espírito Santo quer fazer de nós semeadores de esperança. Não há dom mais belo que difundir esperança em casa, em comunidade, na Igreja local e universal. É como certos produtos modernos que regeneram o ar, perfumando todo o ambiente.
Concluo a série destas meditações quaresmais com um texto de Paulo VI que resume muitos dos pontos que toquei nelas:
«Nós nos perguntamos várias vezes... que necessidade advertimos, primeira e final, para esta Igreja nossa abençoada e amada. Devemos dizer quase com temor e súplica, porque é seu mistério e sua vida, já sabeis: o Espírito Santo, animador e santificador da Igreja, seu alento divino, o vento de suas velas, seu princípio unificador, sua fonte interior de luz e de força, seu apoio e seu consolador, sua fonte de carismas e de cantos, sua paz e sua alegria, seu penhor e prelúdio de vida feliz e eterna. A Igreja precisa de seu perene Pentecostes; precisa de fogo no coração, de palavra em seus lábios, de profecia no olhar... Precisa, a Igreja, recuperar o desejo, o gosto e a certeza de sua verdade.».
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por Frei Raniero Cantalamessa - ofmcap, Pregador do Vaticano
Site Frei Raniero
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