Acesso ao Blog - 25/10/2009

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sexta-feira, outubro 01, 2010

Santa Teresinha do Menino Jesus - 01 de Outubro

Se Deus dá à Igreja Santos e Santas, não menos verdade é, que uma das primeiras condições de santidade é, fora da graça de Deus, a santidade dos progenitores. 

É justamente esta circunstância particular que se observa em relação à Santa Teresa do Menino Jesus. Eram santos os pais.
Luiz José Estanislau Martin, aos vinte anos, teve ardente desejo de tomar o hábito de São Bernardo, mas, reconhecendo que os desígnios da Divina Providência eram outros, desistiu do plano. Zélia Guerin, jovem de muita piedade e caráter enérgico e franco, aspirava a ser admitida entre as irmãs de São Vicente de Paulo, e para este fim solicitou entrada na Congregação das mesmas, em Alençon. As superioras reconheceram não ser esta a vontade de Deus e, sem hesitação, disseram-lhe sua opinião a este respeito. Zélia, resignando-se com esta decisão repetia muitas vezes no íntimo da alma esta prece: “Meu Jesus, já q não sou digna de ser vossa esposa, como irmã querida abraçarei o estado do matrimônio para cumprir a vossa vontade Santíssima. Peço-vos, porém, encarecidamente sejais servido conceber-me muitos filhos, e que todos vos sejam consagrados”.
Deus, em sua paternal bondade, reservava para esta alma predileta o virtuoso jovem já mencionado e, graças às circunstâncias, visivelmente providenciais realizou-se o enlace matrimonial de ambos, aos 12 de julho de 1858, na igreja de Nossa Senhora de Alençon.
Houve Deus por bem aceitar com agrado a santa disposição do pedioso casal e deu-lhe nove filhos; que no santo batismo tiveram os seguintes nomes: Maria Luiza, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Helena (falecida aos cinco anos e meio de idade), José Maria, Maria José, João Batista, Maria Celina, Maria Melania Tereza (falecida três meses depois do nascimento) e Maria Francisca Tereza.
Depois do nascimento das quatro filhas mais velhas, era ardente o desejo do piedoso casal de ter um filho, que futuramente servisse a Deus como missionário, e nesta aspiração dirigiram-se confiadamente a São José. As orações foram ouvidas e o coração dos pais encheu-se de doce júbilo, quando lhes nasceu o primeiro filho, a quem deram o nome de José Maria. Mas os pensamentos do Senhor não são os nossos, nem os seus caminhos são os nossos. Assim aconteceu que ao cabo de cinco meses apenas, o pequeno José trocasse este deserto pelos tabernáculos do Senhor.
Empenhados em alcançar do céu para sua família um sacerdote, um missionário, os pais começaram novamente com ardentes súplicas, e grande lhes foi a alegria quando um outro pequenino José veio tomar o lugar do irmãozinho falecido. Nove meses se passaram e também esta florzinha se viu transplantada para os canteiros celestes.
Desistiram então de pedir ao céu outro missionário. Contudo realizou-se-lhes plenamente o desejo na pessoa da última filha, de todas a mais abençoada e privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma missão grandiosa, verdadeiramente divina.
Nos pais os filhos viam o exemplo de cristãos santos. Amigos da oração, todas as manhãs as reuniam aos pés do altar e à mesa eucarística. Rigorosamente observavam a lei do jejum e da abstinência, eram escrupulosos na santificação do domingo, faziam com assiduidade as práticas de piedade, com a leitura espiritual e a oração em comum. Não faltavam, certamente, provações, mas a única resposta que davam a Deus, era sempre uma total resignação a tudo que a alta Providência quisesse determinar.
Embora houvesse certo bem-estar na família Martin, ninguém se excedia em luxos desnecessário, e em tudo reinava grande simplicidade.
Em família de sentimentos tão cristãos e generosos, a virtude da caridade achava terreno mais amplo de atividade.
Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultada quantia para a Obra da Propagação da Fé. A casa estava sempre aberta para os pobres, e grandes eram as esmolas que lá recebiam. Na distribuição da caridade o senhor Martin não conhecia o respeito humano, e muitos São os casos em que com as próprias mãos servia a pobres desamparados. Não é, pois, caso de estranhar que o nobre homem em suas empresas se visse acompanhado da benção de Deus.
Foi em Alençon, na Rua São Braz, que nasceu a celeste florzinha, Santa Teresa do Menino Jesus, geralmente conhecida pelo nome que o povo cristão lhe deu – Santa Teresinha.
Às onze horas e meia da noite de dois de janeiro Teresa abria os olhos para este mundo.
No dia do nascimento da “rainhasinha”, (assim o extremoso pai chamava sua filhinha) veio um pobre bater à porta da ditosa família e entregar um papel com estes elogios, que mais parecem uma profecia:

Sorri, cresce depressinha,
Tudo te chama à ventura:
Amor, desvelos ternura...
Sorri à fúlgida Aurora,
Botão que nasceste agora,
Rosa mais tarde serás!

Aos 4 de Janeiro a graciosa menina foi levada ao batismo, onde recebeu o nome de Maria Francisca Teresa, servindo-lhe de madrinha a irmã mais velha, Maria Luiza.
Teresa contava apenas quatro anos e meio, quando a morte lhe arrebatou a querida mãe. Foi então que o sr. Martin resolveu mudar a residência para Lisieux, onde morava o cunhado Guérin, cuja esposa velaria pela educação das orfãsinhas.
Pelo belíssimo exemplo que Teresinha tinha constantemente diante dos olhos, bem cedo se acostumou à pratica das virtudes, e decerto é a expressão da verdade o que afirma a autobiografia: que desde a idade de 3 anos nunca recusou coisa alguma a Deus.
Dotada de inteligência superior, treinada pelas experiências colhidas no caminho da provação e da dor, a menina, em bem poucos anos, chegou a demonstrar uma madureza admirável em julgar as coisas divinas e humanas. A esta firmeza de caráter, ao conhecimento profundo das coisas divinas, ao desejo de pertencer a Deus deve-se atribuir o fato de, cora 15 anos apenas, se ter resolvido a entrar na Ordem do Carmelo, cuja regra é uma das mais austeras.

Em sua “História de uma alma”, escrita por ordem da superiora, Madre Inês de Jesus, a nossa Santa, com uma simplicidade encantadora, narra os fatos principais que se ligam à sua vida junto aos pais, no seio da família, a entrada na Ordem, descreve as dificuldades de ordem material e espiritual, consolações que teve e graças extraordinárias que recebeu do divino Esposo.

Dos fatos narrados na “História de uma alma”, tenham aqui lugar só os mais notáveis.
Teresinha, bem pequenina ainda, fez a primeira confissão e saiu do confessionário muito satisfeita, achando que nunca até então tinha experimentado uma alegria igual.
Certo dia teve uma visão um tanto profética, que muito a impressionou. Estando o pai em viagem, que por longo tempo o afastava da família, Teresinha teve a impressão de ver diante de si um homem alquebrado, de cabeça encanecida, e embuçada em véu espesso. Tudo daquele homem, o traje, o andar, a figura, tudo lhe fazia crer que fosse o pai querido. Tomada de estranho terror, chamou por ele com voz trêmula: “Papai, ó papai!” Mas o personagem assim interpelado não dava sinais de ter ouvido estas palavras e continuou a andar, afastando-se pelas alamedas do jardim. Teresinha nunca mais perdeu de memória esta misteriosa visão, preságios de futuros padecimentos, de que o pai seria vítima. O sr. Martin pelo fim da vida sofreu diversos ataques de paralisia, que lhe comprometeram a luz do espírito, de tal modo que durante três anos, foi preciso ser entregue ao cuidado de pessoas estranhas.
Teresinha tinha oito anos e meio, quando se matriculou como externa no colégio das religiosas beneditinas, em Lisieux.
Embora muito mais nova que as companheiras de classe, tirava as melhores notas em composição, e era muito querida entre as religiosas, razões estas que não poucas humilhações lhe importavam, da parte de alunas menos consideradas e menos inteligentes. Foi neste espaço de tempo que na mente de Teresinha surgiu o primeiro pressentimento de ser por Deus chamada a abraçar o estado religioso no Carmelo. Este pressentimento tomou feições de desejo em 1885, quando a prima e amiga Maria Guérin entrou para o Carmelo de Lisieux.
No retiro que a irmã Celina fazia, em preparação para a primeira Comunhão, Teresa a acompanhou e experimentou as mais suaves impressões. O dia da primeira Comunhão considera-o um dos mais belos da vida.
Comparando-se com as irmãs, Teresa se reconhece menos afeita aos brinquedos próprios da idade infantil, porém mais sensível e choraminga até o excesso. Na família reinava sempre a mais perfeita harmonia e entre as irmãs e as primas havia o maior entendimento, a mais franca cordialidade.
Teresa era sempre fraquinha e dores de cabeça atrozes atormentavam-na por dias, semanas e meses, acompanhadas às vezes, por estranhos tremores. Por vezes caia em delírio, sem entretanto perder o uso da razão. Vinham desmaios, que lhe tolhiam o mais leve movimento. O leito parecia-lhe rodeado de demônios e de precipícios horríveis. Os pregos cravados nas paredes do quarto tinham-lhe aos olhos a forma de dedos enormes pretos e carbonizados, cuja vista lhe provocava gritos de horror. Em tão tristes lances se via como sempre, rodeada do mais afetuoso carinho do pai e das irmãs e parentes.
Desta doença, que resistia a todos os recursos da ciência médica, a santa menina se viu curada por Maria Santíssima. Celina, vendo baldados todos os esforços para conservar a vida da querida irmã, invocou, com todo o fervor de mãe que suplica, a Maria Santíssima, representada numa estátua que a família Martin tinha em muita veneração. A estátua, a mesma que se vivificara aos olhos da mãe de Teresa, animou-se de súbito também na presença desta: “A Virgem Santíssima adiantou-se para mim e sorriu...” Celina, ao vê-la fitar os olhos na estátua disse de si para si: “Teresa está curada”. De fato estava. No momento em que a irmã dizia isto consigo, o rosto de Teresa tornara-se diáfano e estava transfigurado. A fisionomia denunciava-lhe algo de sobrenatural. As pessoas presentes a, esta cena sentiram-se tomadas de pasmo e admiração. Não havia dúvida que Teresa em êxtase vira Maria Santíssima.
Restabelecida do terrível mal que a acometera e quase a levara às portas da eternidade, o pai proporcionou-lhe o grande prazer de um passeio agradabilíssimo, ocasião em que começou a conhecer o mundo. Via-se então muito festejada; admirada por todos, sem entretanto compreender o motivo de tantas atenções. Embora não fosse insensível às carícias de pessoas amigas, bem cedo chegou à conclusão de que tudo é vaidade, exceto amar e servir a Deus.
Pessoas da intimidade, por exemplo as mestras, notaram em Teresa grande inclinação à oração mental. A menina meditava de fato, sem contudo dar conta de tal e chamava a isto pensar.
Fez a primeira Comunhão nas melhores disposições. Três meses empregou na preparação. Ela mesma confessa ser-lhe impossível contar as impressões que teve, no momento de receber a sagrada Hóstia. “Meu encontro com Jesus naquele dia não podia ser apenas um simples olhar, mas era sim uma fusão. Já não éramos dois. Teresa desaparecera, como a gota d’água que se abisma no seio do oceano. Restava só Jesus e era o Senhor, o Rei!”
Pouco tempo depois da primeira Comunhão recebeu o sacramento da Confirmação, em preparação do qual fez novo retiro.
O ideal de ser religiosa Carmelita desenhava-se cada vez mais nítido, na alma da piedosa donzela. Obter o consentimento do pai e das irmãs e pedir admissão na Ordem não era tão difícil como a princípio se lhe afigurara. Mas o tio era de parecer contrário. Não só se declarou contrário a idéia, mais ainda acrescentou que se havia de opor à execução de tal plano, caso não houvesse a intervenção de um milagre.
Poucos meses depois, porém, deixou de lado a sua resistência e deu seu consentimento.

“Vai em paz, querida filhinha, — disse-lhe, abraçando-a paternalmente, — és uma florzinha privilegiada, que o Senhor quer para si e a isto não me hei de opôr”.

Levantou-se, entretanto, outra dificuldade, e esta era de natureza muito séria, mesmo insuperável: a recusa formal do Superior do Carmelo de receber na Ordem uma donzela de quinze anos. Idêntica foi a decisão do Bispo de Bayeux, se bem que este muito comovido pela insistência com que Teresa apresentou o pedido, secundado pelas afirmações do pai, não lhe cortasse o fio da esperança, prometendo-lhe falar com o Superior a respeito e responder-lhe então.
Em 7 de Novembro de 1887 organizou-se em Paris uma peregrinação a Roma, na qual tomaram parte o sr. Martin com suas filhas Teresa e Celina. Estava também entre os peregrinos os Padres Revérony, Vigário Geral de Bayeux, de quem Tereza diz que a observava diligentemente, em toda a viagem.
Chegados à Roma, só em 20 de Novembro tiveram a ventura de serem recebidos em audiência no Vaticano. A Santa mesma conta-nos, com todos os detalhes, o histórico dessa audiência.
“Na manhã de domingo (20 de Novembro) fomos ao Vaticano. Às 8 horas assistimos à Missa do Sumo Pontífice. Acabada a Missa de ação de graças, que se seguiu à do Santo Padre, principiou a audiência. Leão XIII estava assentado na poltrona, em trono elevado, vestido de batina branca e murça da mesma cor. Ladeavam-no diversos Prelados e as mais altas dignidades eclesiásticas. Conforme as prescrições do cerimonial, cada um dos peregrinos ia por sua vez ajoelhar-se, beijar primeiro o pé e logo a mão do augusto Pontífice e receber-lhe a bênção; em seguida dois guardas nobres, tocando-o de leve, com o dedo, significavam-lhe que se levantasse para passar à outra sala ceder o lugar ao seguinte.
Ninguém tugia mas eu estava resolvidíssima a falar, quando o Revmo. Pe. Revérony, que se pusera à direita de Sua Santidade, nos fez saber publicamente que proibia terminantemente que se falasse ao Santo Padre. Voltei-me para Celina, a interrogá-la com o olhar; entretanto dava-me o coração pancadas de fazê-lo estalar.
— Fala! disse-me ela.
Momentos depois estava eu ajoelhada diante do Papa. Beijei-lhe o pé e apresentou-me a mão. Levantando então para ele os olhos cheios de água, dirigi-lhe esta súplica:
— Santíssimo Padre, desejo pedir-vos uma graça importante! — Inclinou logo a fronte até junto do meu rosto; como se os seus olhos pretos e profundos quisessem penetrar até o âmago de minha alma.
— Santíssimo Padre, — insisti — em memória do vosso jubileu, autorizai-me a entrar no Carmelo aos quinze anos!
O Revmo. Vigário Geral de Bayeux, estupefato e descontente, atalhou imediatamente:
— Santíssimo Padre, é uma criança que deseja abraçar a vida do Carmelo, mas os Superiores estão atualmente examinando o caso.
— Pois bem, minha filha — disse então Sua Santidade, — esteja pelo que decidirem os superiores.
De mãos postas, e encostadas aos seus joelhos, fiz esta última tentativa:
— Ó Santíssimo Padre, é só dignar-vos de responder-me sim, para concordarem todos!
Olhou-me fixamente e proferiu estas palavras, martelando cada sílaba, em tom de voz penetrante:
— Pois não... vamos ... entrará, se assim aprouver a Deus.
Ia eu insistir ainda, quando se aproximaram dois guardas nobres, acenando que me levantasse. Ao verem que não bastava este aviso, travaram-se dos braços e o Revmo. Padre Revérony veio também os ajudar a erguer-me, visto como ainda me deixava ficar quieta, de mãos postas e apoiadas nos joelhos do Papa.
No momento em que era assim removida, o bom e Santo Padre pôs suavemente a mão sobre os meus lábios e ergueu-os logo depois para me abençoar e por largo espaço de tempo esteve me acompanhando com o olhar”.
Tornados a Lisieux, a primeira visita foi ao Carmelo. Um novo requerimento que Teresa fez ao Prelado diocesano, não teve pronto despacho, como desejava e esperava. Passou-se o Natal do ano de 1887, sem obter resposta alguma. O dia 1.° de Janeiro de 1888 tirou-a afinal da incerteza. Foi nesse dia que a Madre Maria de Gonzaga lhe comunicou ter recebido autorização do Bispo para recebê-la imediatamente, como postulante no Carmelo. Na carta a Superiora acrescentava que só depois da quaresma a entrada se poderia efetuar.
O dia 9 de Abril de 1888 trouxe-lhe afinal a ventura da entrada no Carmelo.
Desde o começo da vida religiosa no claustro, pôde Teresa experimentar as provações com que Nosso Senhor costuma mimosear seus prediletos. Uma aridez espiritual parecia ser-lhe o pão quotidiano, e a Madre Superiora introduziu-a logo nas práticas costumeiras do Carmelo, tratando-a sempre com extraordinária severidade, não lhe perdoando a mínima falta que cometesse. Destarte Teresa bem cedo se habituou a considerar na Superiora não a criatura, mas a pessoa de Nosso Senhor, ficando assim preservada de afeições humanas no claustro, que sempre que as houver, são uma verdadeira calamidade.
Extraordinária e mui significativa é a declaração que Teresa fez, no exame do canônico que lhe precedeu a profissão, dizendo: “Vim para salvar as almas e especialmente para rezar pelos sacerdotes”. Fiel a este propósito ofereceu-se a Jesus como vítima, convencida de que só pelo sofrimento poderia fazer algum bem às almas. Durante cinco anos realizou esta prática, sem que pessoa alguma o soubesse.
Em 10 de Janeiro de 1889 recebeu o hábito, cerimônia a que presidiu o Bispo Diocesano e que se revestiu de grande solenidade, estando presentes as irmãs de Teresa. Acompanhada pelo pai, entrou solenemente na capela.
Para o sr. Martin foi um triunfo e também sua última festa no mundo, pois um mês depois foi acometido de grave doença que o levou à sepultura seis anos depois.
O tempo do noviciado passou célere, entre as práticas de piedade, de virtude e mortificação, sem que houvesse ocorrido fato de maior relevância.
Decorrido um ano, passou pela decepção de não poder professar. Declarou-lhe a Superiora que, devido à oposição formal do Revmo. Padre Superior, havia de esperar mais oito meses. A própria Santa confessa que a princípio lhe custou aceitar tamanho sacrifício, mas, ajudada pela graça divina, conformou-se inteiramente com a decisão de quem fazia as vezes de Jesus.
Passado o tempo da provação, ficou marcado o dia 8 de Setembro de 1890 para a profissão religiosa.
Horas antes da profissão religiosa, recebeu de Roma a bênção do Santo Padre, fato que muito a consolou, tendo durante o retiro espiritual experimentado a mais completa aridez. Permitiu Deus que sua serva, no dia que precedia a profissão, fosse horrivelmente perturbada por tentações a respeito da vocação. “A minha vocação — assim escreve — afigurou-se-me de improviso, simples sonho e quimera; o demônio — pois era ele mesmo — inspirava-me a convicção de que a vida do Carmelo não me convinha por forma alguma, e que enganava os Superiores, metendo-me por um caminho ou instituto de vida para o qual não fora chamada. Tão densas se amontoaram estas trevas, que cheguei a persuadir-me duma coisa única: não tendo vocação religiosa, devia voltar ao mundo”. Foram angústias indescritíveis e para dissipá-las Teresa foi ter-se com a mestra e manifestou-lhe a tentação. Foi o bastante para lhe voltar a calma e o sossego.
Se procurarmos saber que meios Santa Teresa empregou para chegar a tão alto grau de perfeição, que a Igreja e com esta todos os fiéis lhe admiram, descobriremos três: — a oração, a vida unida a Nosso Senhor, a mortificação e o amor a Deus.
O espírito de sacrifício era-lhe universal. Tudo quanto havia de mais penoso e menos agradável, por isso mesmo o procurava com sofreguidão. Tudo o que Deus lhe pedia, dava-lho sem reserva. O que mais a martirizou fisicamente, como o confessa, foi a privação do fogo durante o inverno. “O frio tem sido para mim um tormento de morte”.
Na Sexta-Feira Santa (3 de Abril de 1896) apareceram os primeiros anúncios da “chegada do Esposo”. Freqüentes eram as hemoptises que lhe sobrevinham, mas a Santa sabia habilmente as disfarçar, tanto que só em Maio de 1897 as Irmãs souberam do verdadeiro estado de sua saúde.
Em Julho do mesmo ano foi preciso transferi-la definitivamente para a enfermaria. Os últimos meses foram de sofrimentos incalculáveis, causados por um desânimo que o demônio lhe preparava, atormentando-a com tentações contra o amor de Deus. “Tens certeza — dizia-lhe a voz maldita — de ser realmente amada por Deus?”
Quando em 30 de Julho recebeu a Extrema-Unção, disse jubilosa, às Irmãs: “A porta da minha escura prisão está entreaberta; estou radiante, principalmente depois que o nosso Padre Superior me assegurou que a minha alma se assemelha hoje à de uma criancinha recém-batizada”.
Desde o dia 16 de agosto até 30 de Setembro as freqüentes hemoptises não lhe permitiam receber a santa Comunhão, sacrifício este que de todos lhe era em extremo sensível.
São dos últimos dias de sua existência estas memoráveis palavras: “Nunca dei a Deus senão amor e com amor também me há de recompensar. Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. Sinto que está chegando a hora de desempenhar a minha missão a de fazer amar a Nosso Senhor como o amo... de dar a conhecer a minha veredazinha às almas. Quero passar o meu céu empenhada em fazer bem na terra”.
Muitas coisas edificantes disse ainda Santa Tereza às Irmãs, nos últimos dias de doença.
Entretanto, a dor aumentava de dia para dia. A fraqueza chegou a tais extremos, que a doente sem auxílio não podia fazer o mais leve movimento. Causava-lhe aflição horrível ouvir falar perto de si. A febre martirisava-a de tal maneira, que só com grande esforço podia pronunciar uma palavra. Mas no meio de todo este sofrimento, um leve sorriso lhe aflorava aos lábios.
Chegou, afinal, o dia 30 de Setembro, o dia de sua santa morte. Estreitando o crucifixo nas mãos, parecia absorta em profunda meditação. Quando o sino do Mosteiro tocou as Ave-Marias vespertinas, fixou na Virgem Imaculada um olhar inexprimível. Cobria-lhe o rosto um suor copioso: tremia. Às sete horas e poucos minutos perguntou à Madre Priora:
— Minha Madre, não será talvez a agonia? Não estou nas últimas?
— Pois não, minha filha, é a agonia; mas Jesus quer prolongá-la talvez algumas horas.
E ela, muito resignada:
— Pois bem... vamos... vamos... oh! não quisera que se me abreviassem os sofrimentos...
E olhando para o crucifixo:
— Oh!... Amo-o!... Meu Deus, eu vos... amo!
Foram estas suas últimas palavras; pronunciando-as, deixou-se cair sobre o leito, numa atitude semelhante à de algumas virgens mártires, que se dispunham a receber o último golpe. De repente, se ergueu, como se fosse para atender a uma voz misteriosa, abriu os olhos, e fitou-os com uma expressão de júbilo indizível, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Isso durou mais ou menos a recitação de um “credo” e sua alma voou para os páramos celestes.
Logo depois da morte de Teresinha, começaram a dar-se na comunidade fatos extraordinários. Verificou-se a profecia da Santa, que disse: Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas.
O mundo católico encheu-se de admiração pela santidade da humilde carmelita de Lisieux, e Deus glorificou-a, fazendo-a benfeitora da humanidade, como provam os milagres, que apareceram às centenas.
Treze anos depois da morte, procedeu-se-lhe à exumação do corpo e nesta ocasião foi encontrada intacta e verde a palma que as religiosas lhe tinham posto na mão, logo após a morte.
Beatificada em 1923, Sua Santidade o Papa Pio XI, no ano do jubileu de 1925, lhe deu a honra dos altares. As relíquias, depositadas na capela do Mosteiro do Carmelo em Lisieux, repousam numa riquíssima urna de prata dourada, oferecida pelos católicos do Brasil.

REFLEXÕES

O segredo da santidade de Teresa do Menino Jesus está na perfeita harmonia das virtudes que lhe adornaram a alma e a tornaram tão agradável aos olhos de Deus. São: a humildade e a simplicidade, abnegação de si própria, levada até o heroísmo, o espírito de sacrifício, um amor sem limites a Nosso Senhor e uma confiança sem reserva em Deus. Como não há nada de extraordinário na vida desta santa carmelita, seu exemplo é perfeitamente imitável por todos que seriamente querem a salvação de sua alma. Basta imitar-lhe as virtudes, invocar-lhe a poderosa intercessão. O Espírito Santo, que rege a Igreja de Deus sobre a terra, reservou esta mimosa flor do céu para os nossos tempos, tão pobres de amor e tão saturados de miséria. Graças lhe rendamos por ter dado aos filhos um exemplo tão perfeito de virtudes e santidade, que mostra à humanidade o “pequeno caminho” da santificação. Benfeitora que é dos pobres mortais, que se lhe dirigem nas necessidades materiais e espirituais; padroeira dos missionários que trabalham nas linhas mais avançadas da milícia de Cristo, na terra dos pagãos — a Igreja Católica, reverente, curva-se diante desta filha privilegiada, que tanto já fez e mais ainda fará, para implantar o reino de Cristo nos corações dos homens.

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