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quinta-feira, outubro 21, 2010

A obediência difícil às autoridades religiosas
2010-10-21 07:44:00

 
26. No desenvolvimento concreto da missão, certas obediências podem vir a ser particularmente difíceis, a partir do momento em que as perspectivas ou modalidades da ação apostólica ou diaconal podem ser percebidas e pensadas de maneiras diferentes. Diante de certas obediências difíceis, aparentemente até “absurdas”, pode surgir a tentação da desconfiança e inclusive do abandono: vale a pena continuar? Não posso realizar melhor as minhas idéias noutro contexto? Para que desgastar-se em confrontos estéreis?

São Bento já se defrontava com a questão duma obediência « muito gravosa, ou mesmo impossível de se levar adiante »; e são Francisco de Assis considerava o caso em que « o súdito vê coisas melhores e mais úteis para a sua alma que as que lhe ordena o prelado (o superior) ». O Pai do monacato responde pedindo que se estabeleça um diálogo livre, aberto, humilde e confiante entre monge e abade; ao final, porém, se lhe for requerido, o monge « obedeça por amor de Deus e confiando no seu auxílio ».74 O Santo de Assis convida à prática de uma “obediência caritativa”, na qual o frade sacrifica voluntariamente os seus pontos de vista e cumpre a ordem dada, uma vez que, deste modo, « satisfaz a Deus e ao próximo »; 75 e vê uma “obediência perfeita” lá onde, não podendo obedecer porque nos vem ordenado « qualquer coisa contra a sua alma », o religioso não quebra a unidade com o superior e a comunidade, seja disposto também a suportar perseguição por causa disso. « Com efeito – observa São Francisco – quem sustenta a perseguição antes de querer se separar dos seus irmãos, permanece verdadeiramente na perfeita obediência, porque oferece a sua alma por seus irmãos ».76 Nos vem assim recordado que o amor e a comunhão representam valores supremos, aos quais são submetidos também o exercício da autoridade e da obediência.

Deve-se reconhecer que é compreensível haver, por um lado, certo apego a idéias e convicções pessoais, fruto de reflexão ou de experiência e amadurecidas com o tempo, e é também boa coisa o procurar defendê-las e levá-las adiante, sempre na perspectiva do Reino, num diálogo sincero e construtivo. Por outro lado, não se há de esquecer que o modelo é sempre Jesus de Nazaré, que mesmo na Paixão pediu a Deus cumprir a sua vontade de Pai, e não deu as costas diante da morte de cruz.

Do mesmo modo, a pessoa consagrada, ao ser-lhe requerida a renúncia às próprias idéias ou aos próprios projetos, pode experimentar desconcerto e rejeição da autoridade, ou perceber dentro de si « forte clamor e lágrimas » (Hb 5,7) e a súplica de que passe o cálice amargo. Mas aquele é também o momento em que há de confiar no Pai para que se cumpra a sua vontade, e para poder assim participar ativamente, com todo o próprio ser, da missão de Cristo « para a vida do mundo » (Jo 6,51).

É no pronunciar este difícil « sim » que se pode compreender até o final o sentido da obediência como supremo ato de liberdade, expresso num total e confiante abandono de si a Cristo, Filho livremente obediente ao Pai; e se pode compreender o sentido da missão.

Nestas obediências difíceis é que se pode compreender profundamente o sentido da missão como oferta obediente de si mesmo, que atrai a bênção do Altíssimo: « Eu te abençoarei ... (E) serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste » (Gn 22,17.18). Naquela bênção, a pessoa consagrada obediente sabe que reencontrará tudo o que deixou com o sacrifício do seu desapego; naquela bênção, esconde-se ainda a plena realização da sua própria humanidade (cf. Jo 12,25).

Obediência e objeção de consciência

27. É possível que surja aqui uma pergunta: pode haver situações nas quais a consciência pessoal pareça não permitir que se sigam indicações dadas pela autoridade? Pode ocorrer, em suma, que o consagrado tenha de declarar, em relação a normas ou a seus superiores: « É preciso obedecer a Deus antes que aos homens » (At 5,29)? É o caso da assim chamada objeção de consciência, da qual já falou Paulo VI,77 e que se há de entender no seu significado autêntico.

Se, por um lado, é verdade que a consciência é o lugar onde ressoa a voz de Deus que nos indica como comportar-nos, é verdade também que se faz necessário aprender a escutar esta voz com grande atenção, para saber reconhecê-la e distingui-la de outras vozes. Não é preciso, com efeito, confundir esta voz com as que emergem de um subjetivismo que ignora ou negligencia as fontes e os critérios irrenunciáveis e vinculantes na formação do juízo de consciência: « Na verdade, o “coração” convertido ao Senhor e ao amor do bem é a fonte dos juízos verdadeiros da consciência »,78 e « a liberdade da consciência nunca é liberdade “da” verdade, mas sempre e só “na” verdade ».79

A pessoa consagrada deverá, portanto, refletir longamente antes de concluir que o que percebe dentro de si representa a vontade de Deus e não assim a obediência recebida. Deverá recordar, igualmente, que a lei da mediação se há de levar em conta em todos os casos, cuidando-se de tomar decisões graves sem algum confronto ou verificação. Permanece certamente indiscutível que o que interessa é chegar a conhecer e a cumprir a vontade de Deus, mas, da mesma forma, deveria ser indiscutível que a pessoa consagrada se tenha comprometido, com um voto, a reconhecer esta santa vontade através de determinadas mediações. Dizer que o que vale é a vontade de Deus, e não as mediações, rejeitá-las ou aceitá-las apenas quando agradam, pode tirar significado ao próprio voto e esvaziar a própria vida de uma essencial característica sua.

Por conseguinte, « à exceção de uma ordem que fosse abertamente contrária às leis de Deus ou às constituições do instituto, ou que implicasse um mal grave e certo, no qual caso a obrigação de obedecer não existiria, as decisões do superior abrangem um campo em que a avaliação do bem maior pode variar, segundo os pontos de vista. Querer concluir, pelo fato de uma ordem dada parecer objetivamente menos boa, que ela é ilegítima e contrária à consciência, significaria desconhecer, de uma maneira pouco realista, a obscuridade e a ambivalência de não poucas realidades humanas. Além disso, o recusar a obediência traz consigo um dano, muitas vezes grave, para o bem comum. Um religioso não deveria admitir facilmente que exista contradição entre o juízo da sua consciência e o do seu superior. Esta situação excepcional comportará, por vezes, um autêntico sofrimento interior, à imitação do que se verificou com o próprio Cristo, que “aprendeu o que significa obedecer por aquilo que padeceu” (Hb 5,8) ».80

A difícil autoridade

28. A autoridade também pode cair no desencorajamento e no desencanto: diante das resistências de algumas pessoas ou comunidades, diante de certas questões que parecem insolúveis, pode surgir a tentação de deixar tudo de lado e de considerar inútil todo e qualquer esforço para melhorar uma situação. Perfila-se, então, o perigo de se criarem administradores da rotina, resignados à mediocridade, inibidos para intervir, privados de coragem de apontar as metas da autêntica vida consagrada e correndo o risco de enfraquecer o amor das origens e o desejo de testemunhá-lo.

Quando o exercício da autoridade pesa e se faz difícil, é bom que se recorde que o Senhor Jesus considera tal tarefa como um ato de amor a si (« Pedro, tu me amas? »: Jo 21,16); e se torna salutar ouvir de novo as palavras de Paulo: « Sede alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração, mostrai-vos solidários com os santos em suas necessidades » (Rm 12,12-13a).

O silencioso esforço interior que acompanha a fidelidade à própria missão, marcado quiçá pela solidão e pela incompreensão daqueles aos quais se serve, converte-se em caminho de santificação pessoal e mediação de salvação para as pessoas por cuja causa se sofre.

Obedientes até o fim

29. Se a vida do fiel é toda ela uma busca de Deus, cada dia da existência torna-se então um contínuo aprender da arte de escutar a sua voz para cumprir a sua vontade. Trata-se, sem dúvida, de uma escola que exige esforço, como se fosse uma luta entre aquele eu que tende a ser amo de si e da própria história e aquele Deus que é “o Senhor” de toda história; escola em que se aprende a entregar-se de tal modo a Deus e à sua paternidade, a ponto de depositar confiança até nos homens, seus filhos e nossos irmãos. Cresce assim a certeza de que o Pai não abandona jamais, nem sequer no momento em que se faz necessário confiar o cuidado da própria vida às mãos de irmãos, nos quais se há de reconhecer o sinal da sua presença e a mediação da sua vontade.

Com um ato de obediência, mesmo que seja inconsciente, viemos à vida, acolhendo aquela Vontade boa que nos preferiu à não-existência. Concluiremos o caminho com outro ato de obediência, que desejaríamos fosse o mais possível consciente e livre, mas, sobretudo, expressão de abandono em direção àquele Pai bom que nos chamará definitivamente a si, ao seu reino de luz infinita, onde encontrará termo a nossa busca, e os nossos olhos o verão, num domingo sem ocaso. Então seremos plenamente obedientes e realizados, porquanto diremos para sempre sim àquele Amor que nos constituiu para que sejamos felizes com Ele e n'Ele.


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Do Documento Faciem tuam, Domine, requiram

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